12.12.07

a parte do medo

I

A margem dos dias retoma tua face

Olhos rachados ditavam a escassez

Derramando-se pelas labaredas circulando pelo tráfego

Meu suspiro entrava na garganta

Sufocado e repelido

Ante as vidraças magistrais do abismo inatingível

Sobre os livros, as moscas

Vida sem fim, rondando sozinha pelos cantos

Seu brusco encontro ao meu sono,

Correndo em urros nas seis paredes de meu corpo

Seu vulto perene

Sua saliva inerte

Meu sonho cruzado

Ao passar à margem dos dias

Um novo passante bate a minha porta

E dá ao meu ouvido as notícias do silêncio.

( 15/05/2006)

II

Dois garotos se debruçam nas labaredas do edifício

espreitando o solo do último dia em seu sopro inerte.

O semblante carrega o nó trancafiado entre os dentes

E o foco esvaído

A admirar as cinzas esvoaçando pelo vento

Perplexos pelos fragmentos da ceia

E seu pó circuncidando os olhos

Por seus vidros trincados,

A retina sacode ao fundo

no escuro de seu único espanto,

Alucinação perene na navalha

Erguendo às vidraças o prelúdio de teu ventre:

Nada se cria, nada se faz, tudo se reduz.

Tal é a lei desta província contemporânea ao tempo



texto de Flávio Fraschetti

1 comment:

Anonymous said...

pós impressionante. Realmente gostei de ler seus posts.