Vinte e sete do três:
Dia de querer morrer
Estacionar as fronteiras
Arrancar o diafragma.
Batalhões fuzilam o horizonte
com balas de ti
E meu grito se cala na boca do som.
Vinte e sete do três:
Dia de querer morrer
Estacionar as fronteiras
Arrancar o diafragma.
Batalhões fuzilam o horizonte
com balas de ti
E meu grito se cala na boca do som.I
A margem dos dias retoma tua face
Olhos rachados ditavam a escassez
Derramando-se pelas labaredas circulando pelo tráfego
Meu suspiro entrava na garganta
Sufocado e repelido
Ante as vidraças magistrais do abismo inatingível
Sobre os livros, as moscas
Vida sem fim, rondando sozinha pelos cantos
Seu brusco encontro ao meu sono,
Correndo em urros nas seis paredes de meu corpo
Seu vulto perene
Sua saliva inerte
Meu sonho cruzado
Ao passar à margem dos dias
Um novo passante bate a minha porta
E dá ao meu ouvido as notícias do silêncio.
( 15/05/2006)
II
Dois garotos se debruçam nas labaredas do edifício
espreitando o solo do último dia em seu sopro inerte.
O semblante carrega o nó trancafiado entre os dentes
E o foco esvaído
A admirar as cinzas esvoaçando pelo vento
Perplexos pelos fragmentos da ceia
E seu pó circuncidando os olhos
Por seus vidros trincados,
A retina sacode ao fundo
no escuro de seu único espanto,
Alucinação perene na navalha
Erguendo às vidraças o prelúdio de teu ventre:
Nada se cria, nada se faz, tudo se reduz.
Tal é a lei desta província contemporânea ao tempo
texto de Flávio Fraschetti
Há um sonho sentado no abismo
ao seu lado o veneno a sonhar
entre as flores caladas nos olhos
existe o céu desabando no mar
O inferno abraçado a seu Pai
E meninos cantando entre as pedras
entre o parto e caminhos farpados
entre o corte e a espada
o rugido do fogo em seus lábios
E as cinzas do sangue em seus olhos
Há um horizonte que sempre perdura
Há um mar que nunca cessa
Há um caminho que sempre transborda
A palavra muda se vai
E um outro diz a si o que mais
texto de Flávio Fraschetti